Prestes a completar dez anos, a tragédia da Boate Kiss, que vitimou 242 pessoas e feriu mais de 630, em Santa Maria, na região Central do Rio Grande do Sul, terá uma programação especial a partir desta quarta-feira (25). O presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), Gabriel Rovadoschi, detalhou as atividades que irão marcar simbolicamente a data.

“Essa programação tem uma expectativa bem grande em torno dela, desde quando começamos a imaginá-la, bem como qual tema seria, pois é uma marca muito forte para todos do movimento. Até porque são dez anos, então é uma marca diferente das demais, especialmente por tudo que vivemos neste último ano, desde o julgamento (2021) até a anulação em 2022. Essa programação tem uma frase que nos acompanha: ‘resgatar a memória é construir o futuro’, essa mensagem é o fio condutor de toda nossa programação entre hoje e sábado. O dia 27 (sexta-feira) marca os dez anos do que aconteceu, mas essa campanha e essa programação irão marcar o início destas atividades, que nós pretendemos levar adiante, a outros espaços, para expandir o alcance da nossa mensagem e luta. Faço também questão de reforçar que dez anos é tempo para que muita coisa pudesse estar resolvida,mas não está”, explicou.

Nos quatro dias, em torno de 20 atividades serão realizadas. O presidente da entidade detalhou como será o início da programação especial.

“No dia 25 vamos ter uma intervenção que está sendo encabeçada pelo eixo Kiss, que é do coletivo de psicanálise de Santa Maria, que já vem fazendo várias intervenções desde o final do ano passado, com a colagem de frases na fachada da boate e outras atividades semelhantes. Esta atividade terá uma duração de 1h, no máximo, em que será realizada uma colagem de fotos, frases, perguntas desde a tenda da vigília que ficará na Praça Saldanha Marinho até a fachada da Boate Kiss. Então, serão ‘colagens’ no chão, principalmente, para que as pessoas que passam pelo trajeto sejam instigadas com os questionamentos que serão colocados, além de marcar a trajetória que irá nos acompanhar na caminhada a ser realizada na noite do dia seguinte. Já no dia 26 vai ter o início do dia mais amplo, com a programação mais definida que irá compor os painéis que a gente planejou. Às 16h, vamos realizar uma acolhida na Praça Saldanha Marinho, na nossa estrutura que vai estar montada ali, para então, às 18h, seguirmos para a abertura do evento e o primeiro painel, a ser realizado 30 minutos depois, que será sobre a história da AVTSM”, relatou.

Gabriel também considera e espera que o evento possa estabelecer uma sensação de unidade em Santa Maria. “Para que todos possam compor e reconhecer no que a Kiss pertence a cada um e que as pessoas possam reconhecer qual o papel de cada um nesta luta. Os sobreviventes, e eu falo por mim e acredito que fale por muitos outros também, não querem que alguém fale por eles ou digam quando e como sentir, mas que tenha alguém que saiba respeitar este lugar de fala de cada um e aprenda em conjunto a reconhecer quanto cada pessoa de Santa Maria foi e é afetada neste meio. Os familiares também não querem alguém que fale por eles, mas fale com eles, para que nessa luta, em meio essa imensidão de gente afetada, as diferenças sejam reconhecidas para que todos possam andar na mesma direção sem sobrepor uma as outras”.

Questionado sobre o que ainda espera da Justiça em relação aos desdobramentos dos processos relacionados à tragédia, Gabriel disse que mantém esperança de que os recursos em favor das vítimas, familiares, sobreviventes e amigos sejam concedidos e que o julgamento que condenou os réus a penas entre 18 a 22 anos e meio de prisão seja mantido.

“Para que nós não tenhamos que ser, mais uma vez, violentados por esperanças e expectativas frustradas. As nossas expectativas de Justiça devem ser cumpridas porque a Justiça é um serviço que deve ser prestado a toda a sociedade e não somente a nós. A impunidade é grave e fere a todos em diferentes escalas e intensidades. Essa força que a impunidade tem de ferir a nós que a gente tenta transmitir para as pessoas e mostrar e dizer o quanto isso é errado. Lembrando que esse julgamento, por exemplo, nunca foi o fim da luta pela Justiça, quando houve a sentença, mas era uma marca importante para que a gente desse andamento até nos nossos próprios lutos e legitimar o que a gente sente de acordo com o reconhecimento da Justiça”, pontuou.

Programação de 25 a 28 de janeiro:

Dia 25/01, quarta-feira
• 19h: Intervenção de Colagem de frases e fotografias compondo um caminho da Praça Saldanha Marinho até o prédio onde funcionava a Boate Kiss. Concentração na tenda da vigília (em frente ao Banrisul).

Dia 26/01, quinta-feira
• 14h: Coletiva de imprensa no auditório da Sedufsm (Rua André Marques, nº 665)
• 16h: Acolhida (Praça Saldanha Marinho)
• 18h: Abertura (Praça Saldanha Marinho)
• 18h30min:10 anos da AVTSM com Adherbal Ferreira, (pai Jhenifer e ex-presidente), Flávio Silva (pai de Andrielle e ex-presidente) e Gabriel Rovadoschi (sobrevivente e presidente da associação)
• 19h30min: Aniversariando Ausências com Fabrício Carpinejar (Poeta e cronista gaúcho)
• 21h: Exibição do primeiro episódio do documentário da GloboPlay “Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria” (no Theatro Treze de Maio) e painel com atividades simultâneas para aqueles que não quiserem assistir (na Praça Saldanha Marinho)
• 22h:Vigília e ações de homenagem em frente ao prédio em que funcionava a boate

Dia 27/01, sexta-feira
• 10h: Abertura e culto ecumênico (Praça Saldanha Marinho)
• 13h45min: Soltura dos balões (Praça Saldanha Marinho)
• 14h: Mães y Madres: Kiss e Cromañón com Nilda Gomez (Familias Por La Vida – Argentina) e mães da AVTSM
• 15h30min: O Caso Kiss: até quando a justiça vai servir à impunidade? Com Tâmara Soares (advogada que representa a AVTSM no litígio internacional), Paulo Carvalho (pai do Rafael e diretor jurídico da AVTSM) e Pedro Barcellos Jr. (advogado que representa a AVTSM no processo penal)
• 17h: Por que prevenção vale a pena? Com Antonio Berto (pesquisador chefe do Laboratório de Segurança ao fogo e a Explosões no Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e Rogério Lin (superintendente da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT e membro da Associação Brasileira de Proteção Passiva Contra Incêndio – ABPP)
• 19h: 10 anos do ‘‘Kiss: que não se repita” e apresentação da campanha ‘Tempo Perdido’
• 20h30min: Por que contar essa história 10 anos depois? Com Daniela Arbex (jornalista e autora do livro Todo Dia A Mesma Noite: A História Não Contada Da Boate Kiss) e Marcelo Canellas (jornalista e diretor da série Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria)
• 22h: Encerramento com Juliana Pires (cantora santa-mariense)

Dia 28/01, sábado
• 20h: Missa em homenagem aos 242 jovens, na Basílica Nossa Senhora Medianeira

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